Economia

Legalização da maconha no Uruguai diminui tráfico, mas mercado ilegal ainda tem mais de 70% dos clientes

Por Portal NC

21/09/2022 às 05:31:26 - Atualizado há
Para uma parte dos usuários, há problemas no mercado legal da droga: não se pode pagar com cartão, é preciso se cadastrar, não há lugar nos clubes de maconha e a cannabis legal é pouco potente. Por isso, as vendas estatais ainda patinam. Maconha é liberada para integrar produtos como macarrão e mate no Uruguai

A descriminalização da maconha no Uruguai ajudou a tirar os narcotraficantes do mercado, mas a oferta legal da droga ainda é insuficiente e de baixa potência, o que leva a maioria dos consumidores a recorrer ao mercado ilegal.

Os dados de 2021 mostram que 27% dos consumidores da droga compram maconha de forma legal, segundo estudo publicado pelo IRCCA (Instituto de Regulação e Controle de Cannabis). Ou seja, do total de usuários, mais de 70% compram no mercado ilegal.

Em 2013, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar e regulamentar a produção e o consumo de cannabis. A medida começou a ser aplicada há pouco mais de cinco anos.

Impulsionado pelo ex-presidente José Mujica, o projeto foi apresentado como uma alternativa à "guerra contra as drogas".

De lá para cá, a economia uruguaia recebeu US$ 20 milhões com o comércio de cannabis. A legalização também permitiu o surgimento de uma incipiente indústria exportadora de maconha (no momento, as exportações se concentram em flores para uso medicinal e têm como principais destinos Estados Unidos, Suíça, Alemanha, Portugal, Israel, Argentina e Brasil).

Segundo dados do portal Uruguay XXI, em 2020 dobraram as exportações em relação ao ano anterior, chegando a 7,3 milhões de dólares. Em 2021, a receita foi de 8,1 milhões de dólares e no primeiro semestre de 2022, de 4,4 milhões de dólares.

Apesar de ter sido pioneiro nessa indústria, o Uruguai ainda exporta menos do que outros concorrentes na América Latina, como Chile, que em 2020 faturou 59 milhões de dólares, Peru (US$ 40 milhões) e Colômbia (US$ 37 milhões), segundo um informe da Câmara de Comércio de Quito.

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Como funciona a venda de maconha legal no Uruguai?

A lei implementou três mecanismos para adquirir maconha:

Autocultivo,

Clubes de maconha;

Compra em farmácias.

Todos esses mecanismos estão sob regulamentação estatal, e só os moradores do país podem comprar maconha, embora o Parlamento esteja considerando abrir o mercado aos turistas.

"A regulamentação da cannabis foi mais eficaz do que a repressão no que se refere ao impacto no narcotráfico", diz Mercedes Ponce de León, diretora do Cannabis Business Hub e da ExpoCannabis Uruguay.

Variedade mais forte

Até o fim do ano, o governo planeja vender uma cannabis mais forte nas farmácias para atrair um número maior de consumidores recreativos ao mercado formal.

"Há alguns usuários que demandam um maior percentual de THC ou mais variedade, e isso conspira contra a eficácia do sistema porque determina que alguns usuários que poderiam comprar em farmácias busquem outras opções do mercado regulado ou no mercado negro", diz Daniel Radío, secretário-geral da Junta Nacional de Drogas.

Compradores cadastrados fazem fila para comprar maconha legal em farmácia de Montevidéu, no Uruguai

AP Photo/Matilde Campodonico

Poucas farmácias

Joaquín, nome fictício de um consumidor de cannabis que compra no mercado negro, diz que é difícil conseguir maconha sem marcar hora para retirar na farmácia, e pelo mercado ilegal ele só precisa ter um contato, marcar e comprar.

Além disso, as farmácias habilitadas são poucas em relação à população total, e persistem as dificuldades de acesso ao sistema financeiro devido às legislações internacionais (ou seja, é difícil comprar maconha com cartão de crédito ou cartão de débito).

A questão da privacidade também afeta os consumidores: para se ter acesso ao mercado legal, é preciso se registrar, o que alguns usuários preferem evitar.

Clubes de maconha

No caso dos clubes, há um número limitado de sócios (entre 15 e 45). Existem listas de espera para entrar.

"Pulla", apelido do tesoureiro e encarregado técnico de um clube canábico de Montevidéu, diz que a lista de espera "é um indício de que a demanda não está atendida. Há muito mais gente querendo acessar o mercado legal que ainda não consegue".

A norma também estabelece que a coleta de cada membro não pode passar das 40 gramas mensais e, em muitos casos, também há um mínimo.

Autocultivo clandestino

Da mesma forma que o consumo foi sendo normalizado, a percepção do mercado ilegal também mudou. Os especialistas indicam que os principais abastecedores do mercado sejam os cultivadores locais.

Agus, nome fictício de uma consumidora de 28 anos, explica que se registrou para comprar cannabis em farmácias, mas agora adquire o entorpecente no mercado negro ao mesmo tempo em que cultiva suas próprias plantas, sem estar registrada.

"Eu não vejo como mercado negro. Entendo que é próximo, tem preços bons para o que vende e não parece que a gente esteja recorrendo ao narcotráfico", diz. Tem "um amigo ou conhecido que te passa o contato de alguém que tem flores e as vende".

Segundo Marcos Baudean, professor da Universidade ORT do Uruguai e pesquisador do projeto Monitor Cannabis, "há muito mais cultivadores domésticos que não constam dos registros", e por isso não é possível fazer uma estimativa concreta da abrangência do mercado negro.

Apesar disso, o professor assegura que os cultivadores não registrados "já ultrapassaram" as redes de tráfico na venda de cannabis. Apesar disso, os traficantes continuam presentes no Uruguai, principalmente vendendo o que chamam de 'paraguayos', prensados de maconha mais baratos.

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