Economia

Petrobras 'não fez nada diferente do que faz todo trimestre', diz diretor ao justificar pagamento de dividendos

Por Portal NC

04/11/2022 às 17:16:24 - Atualizado há
Valor total da remuneração que será paga aos acionistas este ano é três vezes maior que montante pago no ano passado. Rodrigo Araujo Alves, diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras durante coletiva de imprensa, realizada na tarde de 4 de novembro de 2022, para apresentação dos resultados financeiros da estatal.

Reprodução

O diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo Alves, afirmou, na tarde desta sexta-feira (4) que a antecipação do pagamento de R$ 43,7 bilhões em dividendos aos acionistas está "completamente dentro do que prevê a política de remuneração" da estatal.

"A companhia não fez nada diferente do que faz todo trimestre, que é olhar para o resultado do trimestre que passou e calcular sua fórmula de 60% do caixa livre", disse o executivo durante coletiva de imprensa para apresentação dos resultados financeiros da Petrobras no terceiro trimestre deste ano, divulgados na véspera.

Alves falou sobre o tema ao ser questionado sobre uma representação feita pelo Ministério Público do Tribunal de Contas da União (TCU) para que a estatal suspenda o pagamento anunciado.

"A Petrobras ainda não teve acesso à essa representação feita pelo Ministério Público do TCU. Mas, como a companhia sempre faz, não só este mas com todos os assuntos, ela está sempre à disposição do TCU, sempre tem a maior transparência", disse o diretor, reiterando que a política de remuneração aos acionistas aprovada pelo Conselho de Administração já previa o pagamento trimestral.

De acordo com a Reuters, o pedido para suspender a antecipação desta rodada de distribuição de dividendos foi feito pelo, subprocurador-geral do MP, Lucas Rocha Furtado, que alegou a necessidade de se conhecer e avaliar se há risco à sustentabilidade financeira da estatal diante possível esvaziamento da disponibilidade de caixa.

Esta é a terceira rodada de distribuição de dividendos da Petrobras este ano. Até setembro, a companhia havia distribuído R$ 173 bilhões em dividendos aos acionistas. Com o pagamento de mais R$ 43,7 bilhões, o valor total de remuneração aos acionistas este ano somará R$ 217 bilhões, três vezes mais que o montante pago em 2021.

Dos R$ 217 milhões, cerca de R$ 62 bilhões ficará com o governo federal, já que a União é acionista majoritária da estatal e detém 28,7% das ações da companhia.

"Os R$ 217 bilhões dariam para comprar todas as ações da incorporadora PDG e ainda sobraria dinheiro. O volume de dividendos distribuídos no terceiro trimestre de 2022, de R$ 111 bilhões, é o maior valor já desembolsado por uma empresa de capital aberto historicamente", apontou Einar Rivero, da Trade Map.

2º maior lucro trimestral da história

Na mesma coletiva de imprensa, o diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo Alves afirmou que o resultado do terceiro trimestre deste ano corresponde ao "melhor resultado da história da companhia", ficando atrás somente do obtido no trimestre anterior.

Segundo anúncio feito nesta quinta-feira (3), a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 46,096 bilhões no terceiro trimestre, 15,2% a menos que o lucro alcançado no trimestre anterior, de R$ 54,330 bilhões.

Alves disse que esses resultados mostram que a Petrobras "tem uma situação financeira bastante sólida e bastante robusta". Apontou, ainda, que a companhia tem "endividamento adequado para o nível de uma companhia de óleo e gás".

Segundo o diretor, o indicador que mede a capacidade de geração de caixa para pagar juros da dívida da estatal já foi superior a um trimestre e que atualmente é de 14 dias.

Segundo a petroleira, o resultado menor nessa comparação é explicado principalmente pela desvalorização do petróleo Brent, além de ausência de ganho de R$ 14,2 bilhões referente ao acordo de coparticipação em Sépia e Atapu ocorrido no segundo trimestre.

Ainda assim, os resultados da empresa estão muito acima da média. No primeiro semestre, a empresa chegou a um lucro acumulado de quase R$ 100 bilhões. Os R$ 98,891 representam alta de 124,6% em relação a igual período de 2021.

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Dividendos polêmicos

A decisão da Petrobras de antecipar os dividendos irritou o futuro governo Lula (PT), que começou a organizar a transição nesta semana. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a decisão da empresa e disse que ela visa pagar parte da gastança eleitoral do governo neste ano eleitoral.

"Isso é uma irresponsabilidade com a empresa e com o país. É a farra do [ministro da Economia] Paulo Guedes, para cobrir os gastos eleitorais do governo Bolsonaro", afirmou a presidente do PT, que integra a equipe de transição.

Integrantes da comissão acusam ainda a estatal, comandada por Caio Paes de Andrade, de segurar o aumento dos combustíveis durante o período eleitoral para não prejudicar o presidente Jair Bolsonaro.

Segundo eles, a Petrobras já teria de aumentar o preço da gasolina e do diesel desde o início do segundo turno, mas decidiu segurar o reajuste por uma questão política.

Mas os lucros da petroleira não foram alvo exclusivo dos petistas. Em março, em meio à crise de valorização dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Petrobras registra "lucro absurdo" em um "momento atípico no mundo" e que ficou insatisfeito com os reajustes nos preços dos combustíveis anunciados pela empresa.

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"Olha só, eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo. Então, não é uma questão apenas interna nossa", disse Bolsonaro, em março.

Meses depois, o presidente fez apelos para que a Petrobras não voltasse a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Aos gritos, durante uma transmissão ao vivo por redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são "um estupro", beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira.

Desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, a Petrobras teve cinco presidentes, incluindo o interino, Fernando Borges. O atual é Caio Paes de Andrade, que foi aprovado pelo conselho da estatal em junho.

A estatal também foi presidida por José Mauro Coelho, pelo general Joaquim Silva e Luna e pelo economista Roberto Castello Branco. Todos caíram em situações em que o governo fez trocas sistemáticas de presidentes da Petrobras com base num discurso de insatisfação com a alta dos preços dos combustíveis.

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