Análise do Instituto Trata Brasil calcula que universalização dos serviços de água e esgoto no país pode gerar benefícios líquidos na ordem de R$ 815,7 bilhões até 2040 - prazo imposto pelo Marco Legal do Saneamento Básico. Entretanto, dados dos últimos anos apontam avanço lento no setor. Manilha despeja esgoto na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro
Marcos Serra Lima/g1
Diminuição de internações, aumento da produtividade no trabalho, valorização imobiliária, expansão do turismo... Os benefícios causados pelo acesso ao saneamento básico são muitos e são conhecidos. Mas, para além da melhora da qualidade de vida dos brasileiros e do meio ambiente, a universalização dos serviços de esgoto e água no país também traria benefícios econômicos. E o valor não é baixo: cerca de R$ 41 bilhões por ano.
É o que aponta um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil com a consultoria Ex Ante. A análise traz estimativas dos benefícios e dos custos de operação do saneamento esperado para o período de 2021 a 2040 no Brasil (veja os cálculos completos no final da reportagem).
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Ao longo desse período, os ganhos socioeconômicos com o saneamento devem chegar a R$ 1,455 trilhão em todo o país, sendo R$ 864 bilhões de benefícios diretos (renda gerada pelo investimento e pelas atividades e impostos recolhidos) e R$ 591 bilhões por conta da redução de perdas associadas a fatores externas (veja mais detalhes abaixo).
Já os custos para universalizar os serviços devem ficar em torno de R$ 639 bilhões. Assim, os benefícios excedem os custos em R$ 816 bilhões, ou R$ 41 bilhões por ano.
Vale dizer que o período analisado pelo estudo não é aleatório: metas impostas pelo Marco Legal do Saneamento Básico estabelecem que 99% dos brasileiros precisam ter acesso a abastecimento de água potável e 90% precisam ter acesso a coleta e tratamento de esgoto até 2033, com possível extensão de prazo para 2040 em alguns casos.
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Mesmo assim, os avanços no setor continuam tímidos, como aponta o estudo. Em 2016, dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) apontavam que o país ainda tinha 35 milhões de brasileiros sem acesso a água e mais de 100 milhões sem coleta de esgoto -- ou seja, em que o esgoto estava sendo jogado diretamente na natureza.
Já os dados mais recentes, que são de 2020, mostram que 33,1 milhões de pessoas seguem sem acesso a água tratada e 94 milhões não tem acesso a coleta e tratamento de esgoto. No Norte, por exemplo, apenas 13,1% da população tem acesso a redes de coleta de esgoto.
Esgoto jorra nas águas da Baía de Guanabara.
Marcos Serra Lima/G1
Por isso, o estudo destaca ponto a ponto o quanto que o maior investimento no saneamento traria benefícios diversos para as cidades, os estados e o país como um todo.
Veja os benefícios ponto a ponto:
Redução dos custos com a saúde: Entre 2021 e 2040, estima-se que o valor da economia com a melhoria das condições de saúde dos brasileiros seja de R$ 25,1 bilhões. São pessoas que deixariam de ficar doentes e de se internar por conta de diarreias e outras complicações causadas pela falta de saneamento. Em 2019, por exemplo, 1,7 milhões de brasileiros indicaram ter se afastado de seus trabalhos nas duas semanas anteriores à entrevista por conta de doenças causadas por falta de saneamento.
Aumento da produtividade: A universalização do saneamento no país deve expandir a produtividade do trabalho de maneira expressiva nesses vinte anos, diz o estudo. O valor do aumento de renda do trabalho esperado é de R$ 438 bilhões, o que resultará num ganho anual de quase R$ 22 bilhões. O estudo aponta que a falta de saneamento tem relação com atraso escolar - que, por sua vez, está relacionado aos indicadores de produtividade. Dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 mostram, por exemplo, que quem mora em uma casa sem saneamento tem desempenho 10% que aqueles que têm acesso ao serviço. Com o acesso universal ao saneamento básico, estima-se uma queda de 6,2% no atraso escolar -- o que possibilita melhora da escolaridade média dos jovens e um efeito positivo sobre a produtividade e a renda do trabalho.
Valorização imobiliária: O ganho para os proprietários de imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria deve chegar a R$ 2,4 bilhões por ano no país, o que totalizará um ganho de R$ 48 bilhões entre 2021 e 2040. Esse valor foi calculado tomando por referência a evolução anual do estoque de moradias de 2021 a 2040 e a valorização imobiliária esperada devida apenas à melhoria das condições de saneamento nos próximos vinte anos. Em 2019, por exemplo, o valor médio de aluguéis pagos por moradores que tinham acesso integral ao saneamento era o triplo dos valores pagos por moradias sem saneamento.
Expansão do turismo: Os ganhos com a renda do turismo no Brasil devidos à universalização do saneamento devem chegar a R$ 4 bilhões por ano. Isso significará uma renda maior para os trabalhadores do setor, maiores lucros para as empresas e impostos também maiores para os governos, principalmente para os municípios que recebem impostos sobre os serviços e as atividades de turismo. Segundo o estudo, dados apontam que o setor de turismo não tem bom desempenho em regiões com falta de água tratada e sem coleta e tratamento de esgoto. Há maiores atividades de turismo em regiões com indicadores de saneamento mais elevados.
Renda gerada pelo investimento no setor: Para universalizar o saneamento até 2040 -- ou seja realizar obras e expandir os serviços de água e esgoto --, o valor de investimentos totalizará R$ 455 bilhões. Já o valor da renda direta, indireta e induzida gerada por esses investimentos deverá alcançar R$ 552 bilhões. Assim, os excedentes de renda gerada pelos investimentos deverão ser de R$ 97 bilhões no período.
Renda das operações de saneamento: Da mesma forma, a expansão das operações de saneamento gerará empregos e renda na cadeia produtiva do setor de água e esgoto. Entre 2021 e 2040, o valor presente do incremento de renda nas operações de saneamento deve alcançar R$ 267 bilhões no Brasil. Já o valor do aumento de despesas das famílias com essas operações deve somar R$ 183 bilhões. Assim, o excedente de renda gerada pela ampliação das receitas da operação de saneamento deve ser de R$ 83 bilhões no período de 2021 a 2040.
Impostos: Por fim, o estudo considera que, entre os benefícios sociais do saneamento, há o valor da arrecadação de impostos sobre consumo e produção nas atividades da construção e na operação do sistema de saneamento. Estima-se que a arrecadação de impostos sobre produção deverá alcançar R$ 44,5 bilhões no período de 2021 a 2040. Por ano, o fluxo esperado será de R$ 2,2 bilhões. Esse valor ajudará a compensar os custos da sociedade brasileira com a expansão dos serviços de saneamento.
Custos e benefícios com a expansão do saneamento até 2040
Benefícios
Redução dos custos com a saúde: R$ 1,254 bilhões por ano;
Aumento da produtividade do trabalho: R$ 21,894 bilhões por ano;
Renda da valorização imobiliária: R$ 2,398 bilhões por ano;
Renda do turismo: R$ 3,997 bilhões por ano;
Renda gerada pelo investimento: R$ 27,618 bilhões por ano;
Renda gerada pelo aumento de operação: R$ 13,337 bilhões por ano;
Impostos ligados à produção: R$ 2,225 bilhões por ano;
Total dos benefícios por ano: R$ 72,725.
Custos
Custo do investimento: R$ 22,766 bilhões por ano;
Aumento de despesas das famílias: R$ 9,173 bilhões por ano;
Total dos custos por ano: R$ 31,939 bilhões.
Balanço
Benefícios - Custos: R$ 40,785 bilhões por ano.
