Economia

Os bastidores da queda da FTX: da batalha de bilionários à desistência do negócio

Por Portal NC

11/11/2022 às 12:25:26 - Atualizado há
Binance desistiu do acordo como resultado de sua 'due diligence' na FTX e notícias sobre as investigações que miram a empresa. Changpeng Zhao, CEO da corretora de criptomoedas Binance, entra pra lista dos mais ricos do mundo

Reprodução/YouTube Binance

A queda da exchange de criptomoedas FTX começou meses antes do acordo com a Binance colapsar. A origem está em erros cometidos pelo presidente-executivo, Sam Bankman-Fried, depois que interveio para salvar outras empresas de criptomoedas em meio ao aumento das taxas de juros no mundo, o que prejudica a performance de ativos de risco, como as criptomoedas.

A avaliação vem de várias fontes próximas a ele e também tem como base comunicações de ambas as empresas que não foram reveladas anteriormente. Alguns desses negócios envolvendo a empresa de trading de Bankman-Fried, Alameda Research, levaram a uma série de perdas que acabaram se tornando a ruína do executivo, de acordo com apuração da agência Reuters.

Após a Binance desistir da aquisição, que envolvia os negócios fora dos Estados Unidos da FTX, Bankman-Fried disse à equipe de sua exchange por mensagem que a Binance não havia feito anteriormente nenhuma ressalva sobre o acordo e que ele estava "explorando todas as opções".

Nem a Binance nem a FTX responderam aos pedidos de comentários. Bankman-Fried disse à Reuters na terça-feira que "provavelmente estarei sobrecarregado" para dar entrevistas. Ele não respondeu a mais mensagens.

A Binance disse anteriormente que decidiu desistir do acordo como resultado de sua 'due diligence' na FTX e notícias sobre as investigações que miram a empresa. As notícias da crise de liquidez na FTX – avaliada em janeiro em US$ 32 bilhões, com investidores como SoftBank e BlackRock – repercutiram no mundo das criptomoedas.

Ao abandonar o acordo, a Binance também evitou o escrutínio regulatório que provavelmente acompanharia a aquisição.

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Relação azeda

O relacionamento entre o presidente-executivo da Binance, Changpeng Zhao, e Bankman-Fried começou em 2019. Seis meses após o lançamento da FTX, Zhao comprou 20% da empresa por cerca de US$ 100 milhões. Na época, a Binance disse que o investimento era "destinado a expandir a economia de ativos digitais em conjunto".

Mas dentro de 18 meses, no entanto, a FTX cresceu rapidamente e Zhao passou a ver a companhia como uma concorrente genuína de aspirações globais, disseram ex-funcionários da Binance.

Quando a FTX, em maio de 2021, solicitou uma licença em Gibraltar para uma subsidiária, teve que enviar informações sobre seus principais acionistas. Porém, a Binance não respondeu aos pedidos de informação enviados pela exchange, de acordo com mensagens e e-mails entre as empresas vistas pela Reuters.

Entre maio e julho, advogados e consultores da FTX escreveram à Binance pelo menos 20 vezes para obter detalhes sobre as fontes de riqueza de Zhao, relacionamentos bancários e propriedade da Binance, apontam as mensagens.

Em junho de 2021, um advogado da FTX disse ao diretor financeiro da Binance que a empresa não estava "se envolvendo adequadamente conosco" e que corria o risco de "interromper gravemente um projeto importante para nós".

Um executivo jurídico da Binance respondeu à FTX que estava tentando obter uma resposta do assistente pessoal de Zhao, mas as informações solicitadas eram "muito gerais" e eles poderiam não fornecer tudo.

Em julho daquele ano, Bankman-Fried cansou de esperar e comprou de volta a participação de Zhao na FTX por cerca de 2 bilhões de dólares, disse uma fonte. Dois meses depois, com a Binance não mais envolvida, o regulador de Gibraltar concedeu uma licença à FTX.

Essa quantia foi paga à Binance, em parte, na própria moeda da FTX, a FTT, disse Zhao – uma participação que ele mais tarde ordenaria que a Binance vendesse, precipitando a crise na FTX.

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Divulgação

Ajuda à Alameda

Em maio e junho deste ano, a empresa de trading de Bankman-Fried, Alameda Research, sofreu uma série de prejuízos com negócios, segundo três fontes familiarizadas com as operações. Isso inclui um contrato de empréstimo de 500 milhões de dólares com a Voyager Digital, disseram duas das fontes. A Voyager entrou com pedido de recuperação judicial no mês seguinte, com o braço norte-americano da FTX pagando 1,4 bilhão de dólares por seus ativos em um leilão em setembro.

Para sustentar a Alameda, que detinha quase 15 bilhões de dólares em ativos, Bankman-Fried transferiu pelo menos 4 bilhões de dólares em fundos da FTX, garantidos por ativos como FTT e ações da plataforma de negociação Robinhood, disseram as fontes. A Alameda havia divulgado em maio uma participação de 7,6% na Robinhood.

Bankman-Fried não contou a outros executivos da FTX sobre a medida para sustentar a Alameda, disseram as fontes, acrescentando que temia que isso pudesse vazar.

Em 2 de novembro, no entanto, uma reportagem do canal de notícias CoinDesk detalhou um balanço patrimonial vazado que supostamente mostrava que grande parte dos 14,6 bilhões de dólares em ativos da Alameda eram mantidos em FTT. A presidente-executiva da Alameda, Caroline Ellison, tuitou que o balanço patrimonial era meramente para um "subconjunto de nossas entidades corporativas", com mais de 10 bilhões de dólares em ativos não refletidos. Ellison não retornou os pedidos de comentários.

Zhao, então, disse que a Binance venderia toda a sua participação no token FTT, no valor de pelo menos 580 milhões de dólares, "devido a revelações recentes que vieram à tona". O preço do token caiu 80% nos dois dias seguintes e uma torrente de saques da FTX ganhou ritmo.

Salto nos saques

Em sua mensagem para a equipe esta semana, Bankman-Fried disse que a empresa viu um "salto gigante de retirada" de recursos. Os usuários sacaram 6 bilhões de dólares em tokens da FTX em apenas 72 horas, segundo ele, enquanto a média diária era de cerca de dezenas de milhões de dólares.

Mesmo após o tuíte de Zhao de que a Binance venderia sua participação em FTT, Bankman-Fried mostrou confiança de que a FTX resistiria aos ataques da rival. Ele disse à equipe por meio da plataforma Slack que os saques "não surprendentemente, foram altos", mas que a empresa havia conseguido processar as solicitações.

"Estamos prosseguindo", escreveu. "Obviamente, a Binance está tentando nos perseguir. Que assim seja".

Mas na segunda-feira a situação tornou-se terrível. Incapaz de encontrar rapidamente um investidor ou vender outros ativos ilíquidos sem aviso prévio, Bankman-Fried entrou em contato com Zhao, de acordo com uma fonte. Mais tarde, Zhao confirmou que Bankman-Fried havia ligado.

Bankman-Fried assinou uma carta de intenções não vinculante para a Binance comprar os ativos fora dos EUA da FTX. O negócio avaliava a FTX em vários bilhões de dólares, disseram duas fontes que tiveram acesso à carta - o suficiente para a empresa cobrir todos os pedidos de saque. Ainda assim, seria uma fração da avaliação que a empresa tinha recebido em janeiro.

Então veio o anúncio da Binance na quarta-feira de desfazer a aquisição. "Os problemas estão além do nosso controle ou capacidade de ajudar", disse a Binance. Zhao tuitou: "Dia triste. Tentei", junto de um emoji chorando.
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