Economia

Como ficam os investimentos em 2023? Veja dicas dos especialistas para montar sua carteira

Por Portal NC

28/12/2022 às 05:22:19 - Atualizado há
Analistas sinalizam cautela com renda variável e indicam títulos de renda fixa pós-fixados para o próximo ano. Juros elevados e desaceleração econômica global podem influenciar nos investimentos em 2023

Divulgação

O cenário de juros elevados, incertezas domésticas e desaceleração global podem influenciar os investimentos brasileiros em 2023.

Segundo analistas, a expectativa é que o Banco Central do Brasil (BC) mantenha a taxa básica (Selic) em 13,75% pelo menos até a metade do ano, sinal de que os títulos de renda fixa – como títulos públicos, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e debêntures, por exemplo – podem ganhar mais espaço na carteira dos investidores.

Já entre os investimentos de renda variável, como ações e câmbio, por outro lado, os especialistas recomendam cautela, principalmente diante das indicações de desaceleração da economia mundial e das incertezas que ainda existem no cenário doméstico.

Entenda o que pode influenciar no rendimento dos investimentos em 2023 e veja dicas para montar a sua própria carteira.

Juros elevados e incertezas fiscais

As indicações de que o governo eleito deve aumentar o gasto público para viabilizar promessas de campanha já preocupa o mercado e, segundo analistas, pode acabar se refletindo nos juros no ano que vem.

A preocupação, afirmam, vem das incertezas que ainda existem sobre de onde devem vir os recursos para financiar essas propostas. Isso porque quanto mais o governo se endivida, maior é o risco de que o mercado perca a confiança em sua capacidade de pagamento e passe a exigir um “prêmio” maior, ou seja, um melhor retorno aos investimentos feitos no país.

Isso pode se refletir tanto em uma saída de capital estrangeiro como em pressão inflacionária e juros mais elevados.

“A opção do governo eleito por um perfil mais desenvolvimentista de sua equipe econômica pode ter algumas implicações importantes para os investimentos. Se temos uma política fiscal mais ativista, há mais inflação, mais dívida e, portanto, mais juros”, afirma o diretor de gestão de investimentos da Nova Futura Gestora de Recursos, Pedro Paulo Silveira.

Ele ressalta, ainda, que diante desse cenário, há não apenas a possibilidade de que o BC mantenha os juros elevados por mais tempo do que o esperado, como também há o risco de uma nova elevação da taxa básica.

Na prática, Selic mais alta significa maior atratividade da renda fixa, desaceleração da atividade econômica e maior custo de dívida para consumidores e empresas – o que, por sua vez, afeta a forma como os investidores calculam o que seria o valor justo das ações no Brasil. Isso, portanto, pode diminuir a demanda de investidores por ativos listados na Bolsa de Valores.

Nesse sentido, a orientação dos analistas para aqueles que já têm esse tipo de alocação, é a de diminuir o percentual de ativos de renda variável na carteira. Já para quem está começando agora, a dica é apostar primeiro em investimentos de renda fixa, priorizando títulos pós-fixados, cuja rentabilidade exata do ativo só será descoberta na hora do resgate.

“Até mesmo depois de o Lula assumir podemos ver uma abertura [alta] significativa das curvas de juros. Então 2023 talvez ainda seja momento de pegar pós-fixados que estejam pagando taxas atraentes e que podem trazer bons retornos”, diz o analista da Toro Investimentos Lucas Serra.

Desaceleração global

Os sinais de desaceleração em economias desenvolvidas também podem acabar influenciando no rendimento dos investimentos ao longo do próximo ano – principalmente entre os ativos de renda variável.

Segundo o responsável pela área de alocação e fundos da XP Investimentos, Rodrigo Sgavioli, o momento econômico desafiador no cenário global reflete os efeitos dos aumentos de juros que tanto os Estados Unidos quanto a Europa precisaram fazer para conter a inflação de forma mais efetiva.

“Já vemos sinais de arrefecimento da atividade econômica nessas regiões e isso consequentemente deve ter um impacto nas empresas e nas famílias desses países desenvolvidos, que também começam a sentir pressões em termos de custo de vida e, no caso das companhias, a tendência é de um crescimento mais tímido ou até de um encolhimento no próximo ano”, explica.

Esse cenário pode afetar o consumo e o mercado de trabalho dessas economias e, segundo analistas, tende a piorar o cenário para os investimentos em bolsa – tanto aqui quanto lá fora. Os investimentos em renda fixa internacionais, por outro lado, continuam a ser boas opções.

De acordo com Serra, da Toro, mesmo que a estimativa principal seja a que a taxa norte-americana atinja o nível de 5% a 5,25%, já existem analistas que esperam um juro de 6% nos EUA em 2023.

“Isso pode ser nocivo para os ativos de renda variável. Então devemos ver um investidor colocando mais recursos em ativos de renda fixa na carteira e tentando surfar um pouco dessa rentabilidade próxima de risco zero”, completa o analista.

Como preparar a carteira para o próximo ano?

Os analistas entrevistados pelo g1 também reforçaram alguns pontos de atenção para os investidores. Veja abaixo as principais dicas para montar sua carteira de investimentos.

Monte e preserve uma reserva para emergências

Saiba o seu perfil de investidor e busque alocações eficientes

Se possível, permaneça investido e com uma carteira diversificada

Monte e preserve uma reserva para emergências

O primeiro passo para quem está começando a investir, afirmam, é construir uma reserva de emergência – o ideal é que ela seja equivalente a um valor de seis a doze meses de salário, mas pode variar bastante em cada caso.

Esse dinheiro deve ser reservado, de preferência em um investimento líquido (que esteja disponível e possa ser acessado rapidamente) e com baixos risco e volatilidade, e só deve ser utilizado em um momento de emergência – como a perda do emprego ou em situações inesperadas –, servindo para bancar as despesas mensais fixas por um determinado período.

Segundo Serra, alternativas interessantes para esse tipo de reserva são os títulos públicos atrelados à Selic ou CDBs e fundos de liquidez diária. “Consolidada a reserva de emergência, aí podemos começar a pensar em outras estratégias de prazos um pouco maiores, a depender do perfil e das expectativas do investidor”, afirma o analista.

Saiba o seu perfil de risco e busque investimentos eficientes

Os especialistas destacam, ainda, a importância de o investidor saber o seu perfil antes de optar por algum tipo de alocação. Os três principais perfis de risco, nesse caso, são: conservador, moderado e arrojado.

Os investidores conservadores são aquelas pessoas com baixa tolerância ao risco, ou seja, aqueles que priorizam a proteção do seu patrimônio a altos retornos. Os investidores moderados, por sua vez, são aqueles que já conseguem tolerar um pouco mais de risco em sua carteira, mas ainda sem abrir mão de segurança, enquanto os investidores arrojados são aqueles mais experientes e que estão dispostos a passar por certa volatilidade e até correr o risco de perder o seu patrimônio para ter maior rentabilidade.

Para os investidores conservadores, os analistas indicam ativos de renda fixa, como CDBs, debêntures (títulos de dívidas emitidos por empresas), Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs), fundos mais conservadores e títulos do Tesouro Nacional. Nesse último caso, os indicados para o momento são os títulos pós-fixados, como Tesouro Selic e Tesouro IPCA+.

Já para os moderados, os analistas ainda recomendam que os ativos de renda fixa tenham uma parcela significativa na carteira de investimentos, mas também citam alguns fundos de risco médio como alternativas, como alguns fundos multimercados que existem no mercado. Os especialistas destacam, ainda, que uma combinação de fundos mais conservadores e mais arriscados também pode ser uma boa opção.

Para os mais arrojados, por fim, os analistas reforçam que mesmo com a maior disposição a aceitar risco, é preciso cautela. Nesse caso, fundos de câmbio e de ações podem ser boas alternativas, mas caso o investidor prefira alocar diretamente em papéis, a dica é estudar a empresa e entender seus fundamentos antes de fazer o investimento.

Além disso, os analistas ainda reforçam a necessidade de buscar alocações eficientes e que se alinhem às expectativas do investidor diante do quadro mais desafiador esperado para o próximo ano. Nesse caso, os especialistas destacam a atenção a prazos e taxas.

“Buscar eficiência, como fundos com taxas menores e ativos isentos de imposto de renda, por exemplo, pode ser uma boa”, afirma Sgavioli, da XP.

Se possível, permaneça investido e com uma carteira diversificada

Por fim, a última dica dos especialistas diz respeito à cautela com oscilações e à diversificação. Quem deve ter atenção, nesse caso, são aqueles que possuem ativos mais voláteis na carteira ou que têm intenção de vender títulos no mercado secundário.

“Momentos de alta volatilidade são bons para gestores profissionais tentarem operar no mercado e é muito difícil para o investidor pessoa física conseguir acertar o momento de entrada e de saída de um investimento. Então alguns podem perceber uma marcação menor [preços menores] em seus ativos e sentirem como se a rentabilidade estivesse negativa. Mas vale lembrar que a perda só acontece quando ele vende o ativo, se não, não realizou”, afirma Sgavioli.

“Momentos de crise só são a melhor hora para comprar ativos baratos para quem está preparado psicologicamente e para quem tem objetivos de mais longo prazo”, completa.

Nesse sentido, a dica para diluir o risco da carteira de investimentos é a diversificação, distribuindo os recursos investidos entre ativos de renda fixa e de renda variável. De acordo com Serra, da Toro, uma boa opção para tornar isso viável é fazer pequenos aportes ao longo do tempo.

“Isso tem potencial até de gerar um pouco mais de valor para o investidor, porque dessa forma ele sempre colocará dinheiro novo e trará mais recursos para a carteira, mitigando um pouco do risco”, afirma.
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